O Poço e o Pêndulo - Cap. 1: O poço e o pêndulo Pág. 4 / 20

Depois disto o meu espírito encontra uma sensação de nivelamento e humidade; e depois tudo é loucura - a loucura da memória que se agita entre coisas proibidas.

Muito bruscamente voltou-me ao espírito som e movimento - o tumultuoso movimento do coração e, nos meus ouvidos, o som do seu pulsar. Depois uma pausa em que tudo desaparece. Depois de novo o som, o movimento e o tacto - como uma sensação vibrante invadindo o meu corpo. Depois a simples consciência de existir, sem pensamentos - um estado que se prolongou muito tempo. Depois, de repente, o pensamento, um terror indescritível e um esforço enorme para compreender a minha verdadeira situação. Depois um desejo ardente de voltar à insensibilidade. Depois um brusco renas cimento da alma e um esforço bem sucedido para me mover. E agora a recordação plena do julgamento, dos juízes, dos tecidos negros, da sentença, da náusea, do desmaio Quanto a tudo o que se lhe seguiu, o esquecimento completo; só mais tarde e a muito custo consegui vagamente recordá-lo.

Até aqui ainda não tinha aberto os olhos. Sentia que estava deitado de costas e que não estava amarrado. Estendi a mão e ela caiu pesadamente sobre algo húmido e duro. Deixei-a assim ficar durante uns minutos, tentando adivinhar onde estava e o que me acontecera. Sentia um desejo imenso de me servir dos meus olhos, mas não me atrevia a fazê-lo. Temia ver pela primeira vez os objectos que me rodeavam. Não é que me assustasse a ideia de ver coisas horríveis, assustava-me era a ideia de que não houvesse nada para ver. Finalmente, numa angústia terrível, abri rapidamente os olhos. Confirmaram-se, então, os meus mais negros pensamentos. Envolvia-me O negrume da noite eterna. Fiz um esforço para respirar. A intensidade da escuridão parecia oprimir-me e sufocar-me.





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