O Poço e o Pêndulo - Cap. 1: O poço e o pêndulo Pág. 6 / 20

Contavam-se sobre essas masmorras estranhas coisas - que eu sempre considerara como fábulas -, mas no entanto tão estranhas e aterradoras que só num murmúrio se podiam repetir. Estaria eu condenado a morrer de fome nesse subterrâneo mundo de trevas? Ou que destino, mais terrível ainda talvez, me esperava? Que o resultado era a morte, e uma morte mais amarga ainda que O costume, o carácter dos meus juízes, que eu tão bem conhecia, não me podia deixar dúvidas; a maneira e a hora era tudo quanto me ocupava e atormentava.

As minhas mãos estendidas encontraram finalmente um obstáculo sólido. Era uma parede construída, ao que parecia, com blocos de pedra muito lisa, húmida e fria. Segui ao longo dela, caminhando com a precaução desconfiada que me inspiravam certos contos antigos. Contudo este processo não me permitiu certificar-me das dimensões da masmorra; porque podia contorná-lo e voltar ao ponto de partida sem dar por ela, tão lisa era a parede. Procurei, pois, a faca que trazia no bolso quando me haviam levado ao tribunal; mas esta desaparecera; tinham-me trocado a roupa por uma túnica de burel grosseiro. A minha ideia era enfiar a lâmina nalgum minúsculo buraco da parede para marcar um ponto de partida.

A dificuldade, porém, era bem trivial; mas, na desordem do meu espírito, pareceu-me a princípio insuperável. Rasguei um pedaço da bainha da túnica e estendi o fragmento a todo o comprimento e em ângulo recto com a parede. Ao tactear à volta da minha prisão não poderia deixar de encontrar o trapo quando completasse o círculo. Pelo menos foi o que pensei: mas não contara com a extensão da cela ou com a minha própria fraqueza. O chão estava húmido e escorregadio. Avancei vacilante durante algum tempo, depois tropecei e caí.





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