Pelo menos o quadro, que o corpo de Gregório ocultava totalmente, ninguém havia de retirar. Voltou a cabeça para a porta da sala de estar, a fim de poder observar as mulheres quando regressassem.
Pouco tinham descansado, visto que regressavam nesse momento, a mãe quase apoiada a Grete, que lhe passara o braço em torno da cintura.
- Bem, que havemos de tirar agora? - perguntou Grete, olhando em volta.
Foi então que deparou com Gregório. Manteve a compostura, provavelmente em atenção à mãe, e inclinou a cabeça para ela, a fim de evitar que levantasse a vista. Ao mesmo tempo, perguntou-lhe, em voz trémula e desabrida:
- Não será melhor voltarmos um instante ao refeitório?
Gregório adivinhou facilmente as intenções de Grete: queria pôr a mãe a salvo e enxotá-lo seguidamente da parede. Muito bem, ela que experimentasse!
Agarraria ao quadro e não cederia. Preferia avançar sobre o rosto de Grete.
Mas as palavras de Grete não haviam logrado senão desassossegar a mãe, que deu um passo para o lado e encarou o enorme vulto castanho no florido papel da parede. Antes de tomar perfeita consciência de que se tratava de Gregório, gritou roucamente:
- Ai, meu Deus! Ai, meu Deus!- e deixou-se desmaiar de braços abertos no sofá, não dando mais sinal de vida.
- Gregório! - gritou a irmã, fitando-o com um punho cerrado erguido na sua direção. Era a primeira vez que se lhe dirigia diretamente depois da metamorfose.
Correu à sala contígua em busca de um frasco de sais para reanimar a mãe.
Gregório quis igualmente ajudar, pois havia tempo para salvar o quadro, mas teve de fazer grande esforço para se descolar do vidro. Ao consegui-lo, correu atrás da irmã para a sala contígua, como se pudesse aconselhá-la, a exemplo do que costumava fazer, mas não teve outro remédio senão deixar-se ficar desamparadamente atrás dela.