Pedro que a benza.
Um dos criados de D. Luís exclamou:
— Se isto não é de caso pensado, não me posso persuadir que homens de tão bom entendimento, como são ou parecem ser todos os que aqui estão, se atrevam a dizer e afirmar que isto não é bacia e aquilo albarda; mas, como vejo que o afirmam e dizem, dá-me isto a entender que não deixa de ter mistério o porfiar numa coisa tão contrária à verdade; porque voto a tal que ninguém que hoje vive no mundo me pode fazer acreditar que isto não é bacia de barbeiro, e aquilo albarda de burro.
— Pode muito bem ser de burra — disse o cura.
— Tanto monta — tornou o criado — que o caso não está nisso, mas em ser ou não ser albarda, como Vossas Mercês dizem.
Ouvindo isto um dos quadrilheiros que tinham entrado, que ouvira a pendência, cheio de enfado e cólera, bradou:
— É tão albarda como meu pai é meu pai, e quem outra coisa disse ou disser, é porque está bêbado como um cacho.
— Mentis como um velhaco e vilão — respondeu D. Quixote.
E levantando a lança, que nunca largara das mãos, descarregou-lhe tal golpe na cabeça, que, se o quadrilheiro se não desviasse, deixara-o ali estendido; a lança fez-se pedaços no chão, e os outros quadrilheiros, que viram maltratar o seu camarada, ergueram a voz pedindo auxílio à Santa Irmandade. O vendeiro, que pertencia à corporação, correu a ir buscar a vara e a espada, e veio colocar-se ao lado dos seus companheiros; os criados de D. Luís rodearam-no para que não aproveitasse o alvoroto para se safar; o barbeiro, vendo o reboliço, tornou a deitar mão à albarda, e o mesmo fez Sancho; D. Quixote desembainhou a espada e arremeteu com os quadrilheiros; D. Luís bradava aos seus criados que o largassem a ele e socorressem D. Quixote, e Cardênio e D.