E por tal forma verdascou o macho, que D. Quixote não pôde perguntar-lhe que maravilhas eram essas que tencionava contar-lhes; e, como era curioso e o perseguiam sempre desejos de saber coisas novas, determinou ir passar a noite na venda, sem parar na ermida, onde o primo do licenciado queria que ficassem. Assim se fez, montaram a cavalo e seguiram todos três direitos à venda, onde chegaram pouco antes de anoitecer. Dissera o primo do licenciado a D. Quixote que entrassem na ermida para beber uma pinga.
Apenas Sancho Pança ouviu isto, logo para lá dirigiu o ruço e o mesmo fizeram D. Quixote e o guia; mas a má sorte de Sancho ordenou que o ermitão não estivesse em casa, que assim lho disse um sota-ermitão que encontraram. Pediram-lhe vinho para o pagar. Respondeu-lhes que era coisa que lá não havia, mas que se queriam água de graça, lha daria de muito boa vontade.
— Se eu tivesse vontade de beber água — respondeu Sancho — há no caminho muitos poços, onde a teria satisfeito! Ah! bodas de Camacho! farturas da casa de D. Diogo! quantas vezes hei-de ter saudades vossas!
Nisto, saíram da ermida e seguiram para a venda, e daí a pedaço toparam um rapazito, que ia caminhando adiante deles, mas sem grande pressa, e por isso logo o apanharam. Levava a espada ao ombro, e suspensa da espada uma trouxa, que provavelmente havia de ser do fato, porque vestia só roupas muito ligeiras, mas as meias eram de seda e os sapatos quadrados à moda da corte.
Seria moço de dezoito a dezanove anos, ágil, de fisionomia alegre, e cantava seguidillas para entreter o caminho.
Quando se aproximaram, ia ele cantando uma que dizia assim:
À guerra me levam, mas não por vontade.
Tivesse eu dinheiro, não fora, em verdade.
O primeiro que lhe falou foi D.