Esta resposta deixou perplexo o vice-rei, hesitando se consentiria ou não na batalha; mas, não se podendo persuadir que fosse a sério, afastou-se, dizendo:
— Senhores cavaleiros, se não há aqui outro remédio senão confessar ou morrer, e se o senhor D. Quixote embirra nos treze e o senhor cavaleiro da Branca Lua nos catorze, nas mãos de Deus se entreguem.
Agradeceu o da Branca Lua ao vice-rei, com palavras corteses e discretas, a licença que lhes dava, e o mesmo fez D. Quixote, que, encomendando-se ao céu de todo o coração e à sua Dulcineia, como tinha por costume ao começar as batalhas que se lhe ofereciam, tornou a tomar mais campo, porque viu que o seu contrário fazia o mesmo, e, sem toques de trombeta, nem de outro bélico instrumento que lhes desse sinal de arremeter, voltaram ambos ao mesmo tempo as rédeas dos cavalos e, como era mais ligeiro o da Branca Lua, esbarrou com D. Quixote a dois terços da carreira, com tanta força, sem lhe tocar com a lança, e levantando-a até de propósito, que deu em terra com Rocinante e com D. Quixote. Foi logo sobre este e, pondo-lhe a lança em cima da viseira, disse-lhe:
— Vencido estais, cavaleiro, e podeis dar-vos por morto, se não confessais as condições do nosso desafio.
D. Quixote, moído e atordoado, sem levantar a viseira e como se falasse de dentro dum túmulo, com voz debilitada e enferma, disse:
— Dulcineia del Toboso é a mais formosa mulher do mundo e eu o mais desditoso cavaleiro da terra, e a minha fraqueza não pode nem deve defraudar esta verdade: carrega, cavaleiro, a lança, e tira-me a vida, já que me tiraste a honra.
— Isso não faço eu — disse o da Branca Lua — viva na sua inteireza a fama da formosura da senhora Dulcineia del Toboso, e satisfaço-me retirando-se o grande D.