O niilista, aquele estranho mártir que não tem fé alguma, que vai para a fogueira sem entusiasmo, e morre pelo que não acredita, é um produto puramente literário. Ele foi inventado por Tourgenieff, e completado por
Dostoiévski. Robespierre saiu das páginas de Rousseau tão seguramente como People’s Palace se levantou dos escombros de um romance. A Literatura sempre antecipa a vida. Não a copia, e sim a molda para seus propósitos. O século XIX, como o conhecemos, é em grande parte uma invenção de Balzac. Nossos Luciens de Rubempré, nossos
Rastignacs, e
De Marsays fizeram sua primeira apresentação no palco da
Comedie Humaine. Nós estamos simplesmente dando continuidade, com notas de pé de página e acréscimos desnecessários, à extravagância, ou fantasia, ou visão criativa de um grande romancista. Eu uma vez perguntei a uma dama, que conhecia Thackeray intimamente, se ele teve algum modelo para Becky Sharp. Ela me disse que Becky foi uma invenção, mas que a ideia da personagem foi em parte sugerida por uma governanta que morava na vizinhança de Kesington Square, e era a companheira de uma bem egoísta e rica senhora. Eu indaguei o que sucedeu à governanta, e ela respondeu que, estranhamente, alguns anos após o aparecimento de
Vanity Fair, ela fugiu com o sobrinho da dama com a qual estava vivendo, e por um curto tempo fez um grande furor na sociedade, bem no estilo da Sra. Rawdon Crawley, e inteiramente pelos métodos desta. Por fim, arruinou-se, desapareceu na Europa, e costumava ser vista ocasionalmente em Monte Carlo e outros lugares de jogo.