O Regresso de Sherlock Holmes - Cap. 4: A Aventura da Ciclista Solitária Pág. 91 / 363

O meu amigo, que se deliciava, acima de tudo, com a precisão e a concentração do pensamento, aborrecia-se com qualquer coisa que desviasse a sua atenção de qualquer problema que tivesse entre mãos. E, no entanto, sem mostrar uma rudeza que era alheia à sua natureza, ter-lhe-ia sido impossível recusar-se a escutar a história da jovem e bela mulher, alta, graciosa e de porte majestoso, que se apresentou nesse fim de tarde em Baker Street, implorando a sua ajuda e conselho. Foi em vão que lhe foi explicado que Holmes tinha todo o seu tempo ocupado, pois a jovem viera determinada a contar a sua história e era evidente que só pela força poderia ser levada a sair da sala antes de o fazer. Com uma expressão de resignação e um sorriso ligeiramente enfastiado, Holmes pediu à bela intrusa que se sentasse e que nos informasse sobre o que a preocupava.

- Não pode ser, com certeza, a sua saúde – disse, olhando-a com a sua habitual perspicácia -, senão não seria uma ciclista tão entusiasta e cheia de energia.

Ela olhou surpreendida para os próprios pés e eu notei a sola ligeiramente gasta de lado devido à fricção do pedal.

- Sim, ando bastante de bicicleta. Sr. Holmes, e isso tem a ver com a minha vinda aqui hoje.

O meu amigo pegou na mão sem luva da jovem e examinou-a com tanta atenção e ausência de sentimento como um cientista examinaria um exemplar de estudo.

- Estou certo de que me desculpará, pois é este o meu ofício disse ao largar-lhe a mão. - Quase cometi o erro de afirmar que escrevia à máquina. É óbvio que toca música. Repare nas extremidades dos dedos ligeiramente achatadas, Watson, que é comum a ambas as profissões. No entanto, o seu rosto revela espiritualidades.





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