Frei Luís de Sousa - Cap. 3: Acto Terceiro Pág. 91 / 122

JORGE

- Deus, Deus será o pai de tua filha.

MANUEL

- Olha, Jorge: queres que te diga o que eu sei decerto, e que devia ser consolação… mas não é, que eu sou homem, não sou anjo, meu irmão - devia ser consolação, e é desespero, é coroa de espinhos de toda esta paixão que estou passando… É que a minha filha… Maria… a filha do meu amor, a filha do meu pecado, se Deus quer que seja pecado, não vive, não resiste, não sobrevive a esta afronta. (Desata a soluçar, cai com os cotovelos fixos na mesa e as mãos apertadas no rosto: fica nesta posição por longo tempo. Ouve-se de quando em quando um soluço comprimido. Frei Jorge está em pé, detrás dele, amparando-o com o seu corpo, e os olhos postos no céu.)

JORGE

(chamando timidamente)

- Manuel.

MANUEL

- Que me queres, irmão?

JORGE

(animando-o)

- Ela não está tão mal; já lá estive hoje…

MANUEL

- Estiveste?… Oh! conta-me, conta-me; eu não tenho… não tive ainda ânimo de a ir ver.





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