— Toca! toca! Vamos ver se o fogueteiro aprontou os fogos!
E viam-se chegar, quase sem intermitência, homens carregados de gigos de champanha, caixas de Porto e Bordéus, barricas de cerveja, cestos e cestos de mantimentos, latas e latas de conserva; e outros traziam perus e leitões, canastras d’ovos, quartos de carneiro e de porco. E as janelas do sobrado iam-se enchendo de compoteiras de doce ainda quente, saído do fogo, e travessões, de barro e de ferro, com grandes peças de carne em vinha d’alhos, prontos para entrar no forno. À porta da cozinha penduraram pelo pescoço um cabrito esfolado, que tinha as pernas abertas, lembrando sinistramente uma criança a quem enforcassem depois de tirar-lhe a pele.
Todavia, cá em baixo, um caso palpitante agitava a estalagem: Domingos, o sedutor da Florinda, desaparecera durante a noite e um novo caixeiro o substituía ao balcão.
O vendeiro retorquia atravessado a quem lhe perguntava pelo evadido:
— Sei cá! Creio que não podia trazê-lo pendurado ao pescoço!...
— Mas você disse que respondia por ele! repontou Marciana, que parecia ter envelhecido dez anos naquelas últimas vinte e quatro horas.
— De acordo, mas o tratante cegou-me! Que havemos de fazer?... É ter paciência!
— Pois então ande com o dote!
— Que dote? Você está bêbeda?
— Bêbeda, hein? Ah, corja! tão bom é um como o outro! Mas eu hei de mostrar!
— Ora, não me amole!
E João Romão virou-lhe as costas, para falar à Bertoleza que se chegara.
— Deixa estar, malvado, que Deus é quem há de punir por mim e por minha filha! exclamou a desgraçada.
Mas o vendeiro afastou-se, indiferente às frases que uma ou outra lavadeira imprecava contra ele. Elas, porém, já se não mostravam tão indignadas como na véspera; uma só noite rolada por cima do escândalo bastava para tirar-lhe o mérito de novidade.
Marciana foi com a pequena à procura do subdelegado e voltou aborrecida, porque lhe disseram