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Capítulo 10: Capítulo 10

Página 108
que nada se poderia fazer enquanto não aparecesse o delinquente. Mãe e filha passaram todo esse sábado na rua, numa roda-viva, da secretaria e das estações de polícia para o escritório de advogados que, um por um, lhes perguntavam de quanto dispunham para gastar com o processo, despachando-as, sem mais considerações, logo que se inteiravam da escassez de recursos de ambas as partes.

Quando as duas, prostradas de cansaço, esbraseadas de calor, tornaram à tarde para a estalagem, na hora em que os homens do mercado, que ali moravam, recolhiam-se já com os balaios vazios ou com o resto da fruta que não conseguiram vender na cidade, Marciana vinha tão furiosa que, sem dar palavra à filha e com os braços moídos de esbordoá-la, abriu toda a casa e correu a buscar água para baldear o chão. Estava possessa.

Vê a vassoura! Anda! Lava! lava, que está isto uma porcaria! Parece que nunca se limpa o diabo desta casa! É deixá-la fechada uma hora e morre-se de fedor! Apre! isto faz peste!

E notando que a pequena chorava:

— Agora deste para chorar, hein? mas na ocasião do relaxamento havias de estar bem disposta!

A filha soluçou.

— Cala-te, coisa-ruim! Não ouviste?

Florinda soluçou mais forte.

— Ah! choras sem motivo?... Espera, que te faço chorar com razão.

E precipitou-se sobre ela com uma acha de lenha.

Mas a mulatinha, de um salto, pinchou pela porta e atravessou de uma só carreira o pátio da estalagem, fugindo em desfilada pela rua.

Ninguém teve tempo de apanhá-la, e um clamor de galinheiro assustado levantou-se entre as lavadeiras.

Marciana foi até o portão, como uma doida e, compreendendo que a filha a abandonava, desatou por sua vez a soluçar, de braços abertos, olhando para o espaço. As lágrimas saltavam-lhe pelas rugas da cara. E logo, sem transição, disparou da cólera, que a convulsionava desde a manhã da véspera, para cair numa dor humilde enternecida de mãe que perdeu o filho.

— Para onde iria ela, meu pai do céu?

— Pois você desde ontem que bate na rapariga!... disse-lhe a

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Capa do livro O Cortiço
Páginas: 239
Página atual: 108

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 16
Capítulo 3 27
Capítulo 4 39
Capítulo 5 47
Capítulo 6 53
Capítulo 7 61
Capítulo 8 76
Capítulo 9 89
Capítulo 11 126
Capítulo 12 138
Capítulo 13 147
Capítulo 14 156
Capítulo 15 165
Capítulo 16 175
Capítulo 17 186
Capítulo 18 190
Capítulo 19 196
Capítulo 20 208
Capítulo 21 216
Capítulo 22 227
Capítulo 23 234