A Escrava Isaura - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 103 / 185

Aniquiladas sob o peso dos esmagadores triunfos de Isaura, não se achando com ânimo de manterem-se por mais tempo na liça, tomaram o prudente partido de irem esconder no misterioso recinto das alcovas o despeito e vergonha de tão cruel e solene derrota.

Não diremos todavia que no meio de tantas e tão nobres damas, distintas pelos encantos do espírito e do corpo, não houvesse muitas que, com toda a isenção e sem a menor sombra de inveja, admirassem a beleza de Isaura, e aplaudissem de coração e com sincero prazer os seus triunfos, e foram essas que conseguiram ir dando alguma vida ao sarau, que sem elas teria esmorecido inteiramente. Todavia não é menos certo que do belo sexo, sem distinção de classes, ao menos a metade é ludibrio dessas invejas, ciúmes e rivalidades mesquinhas.

Deixamos Isaura indo tomar parte em uma quadrilha, tendo Álvaro por seu par. Enquanto dançam, entremos em uma saleta, onde há mesas de jogo, e bufetes guarnecidos de licoreiras, de garrafas de cerveja e champanha. Esta saleta comunica imediatamente com o salão onde se dança, por uma larga porta aberta. Acham-se ai uma meia dúzia de rapazes, pela maior parte estudantes, desses com pretensões a estroinas e excêntricos à Byron, e que já enfastiados da sociedade, dos prazeres e das mulheres, costumam dizer que não trocariam uma fumaça de charuto, ou um copo de champanha, pelo mais fagueiro sorriso da mais formosa donzela; desses descridos, que vivem a apregoar em prosa e verso que na aurora da vida já têm o coração mirrado pelo sopro do cepticismo, ou calcinado pelo fogo das paixões, ou enregelado pela saciedade; desses misantropos enfim, cheios de esplim, que se acham sempre no meio de todos os bailes e reuniões de toda espécie, alardeando o seu afastamento e desdém pelos prazeres da sociedade e frivolidades da vida.





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