- “Não te enganas, dominó... Obsequeias-me se me não deres o incómodo de te mandar retirar.”
- “És muito delicada, minha nobre Sofia!... Já agora, porém, deixa-me dar-te uma ideia mais precisa desta mulher que te enfada, e que, apesar das tuas injustiças, se interessa na tua sorte. Diz-me cá... Tens uma sincera paixão, uma saudade pungente por aquele belo capitão de cavalaria que te deixou, tão sozinha, com as tuas agonias de amante?”
- “Que te importa?...”
- “És cruel! Pois não ouves o tom sentimental com que te faço esta pergunta?... Quantos anos tens?...”
- “Metade e outros tantos...”
- “A resposta não me parece tua... Aprendeste essa vulgaridade com a filha do teu sapateiro?... Ora olha: tu tens 38 anos, a não ser mentiroso o assento de baptismo, que se lê no cartório da freguesia dos Mártires em Lisboa. Aos vinte anos amavas com ternura um tal Pedro Sepúlveda. Aos vinte e cinco, amavas com paixão, um tal Jorge Albuquerque. Aos 30, amavas com delírio, um tal Sebastião de Meireles. Aos 35, amavas, em Londres, com frenesi um tal... Como se chamava... Não me recordo.. Diz-me, por piedade, o nome desse homem, que, senão, fica o meu discurso sem o efeito do drama... Não dizes, má?... Ai!... Eu tenho aqui a mnemónica...”
Henriqueta tirou a luva da mão esquerda, e deixou ver um anel... Sofia estremeceu, e corou até às orelhas.
- “Já te recordas?... Não cores, minha querida amiga... Que não fica bem ao teu carácter de mulher que conhece o mundo pela face positiva.