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Capítulo 3: III

Página 15
Carlos acompanhou-a em todos esses movimentos, e preparou-se para um novo enigma.

Segundo o costume, as mãos de Henriqueta passaram por uma análise rigorosa. Não era possível, porém, fazê-la tirar a luva da mão esquerda.

- “Dominó, porque não deixas ver este anel?” - perguntava uma senhora de olhos negros, e vestida de negro, como uma viúva rigorosamente enlutada.

- “Que te importa o anel, minha querida Sofia!?... Falemos de ti, aqui em segredo. Ainda vives melancólica, como a Dido da fábula? Fica-te bem essa cor de esquifes, mas não sustentas o carácter artístico com perfeição. A tua tristeza é fingida, não é verdade?”

- “Não me ofendas, dominó, que eu não te mereço essa injúria... A desgraça nunca se finge...”

- “Disseste uma verdade, que é a tua condenação. Eu, se tivesse sido abandonada por um amante, não vinha aqui dar-me em espectáculo a um baile de máscaras. A desgraça não se finge, é verdade; mas a saudade esconde-se para chorar, e a vergonha não se ostenta radiosa desse sorriso que te brinca nos lábios... Olha, minha amiga, há umas mulheres que nasceram para esta época, e para estes homens. Há outras que a Providência caprichosa atirou a esta geração corrompida como os imperadores romanos atiravam os cristãos ao anfiteatro dos leões. Felizmente que tu não és das segundas, e sabes harmonizar com o teu génio folgazão e desleixado uma hipocrisia que te vai bem num sofá de penas, onde tu recostas com um perfeito conhecimento das atitudes lânguidas das mulheres cansadas do Balzac. Eu, se fosse homem, amava-te por desfastio!... És a única mulher para quem este país é pequeno. Devias conhecer o Regente, e Richelieu, e os abades de Versalhes, e as filhas do Regente, e as Heloísas desenvoltas dos abades, e as aias da duquesa do Maine.

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Capa do livro Coisas que só eu sei
Páginas: 51
Página atual: 15

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 7
III 12
IV 18
V 22
VI 27
VII 32
VIII 36
IX 40
X 46