- Queres dizer que elas não dariam uma boa esposa?
- Sim, é isso. Ou antes, não é bem isso... Não digo que não cumprissem com seus deveres para comigo, o que eu quero dizer é que... Bom, a verdade é que não sei o que quero dizer. Só sei que, quando penso na minha vida e em ti, então as duas coisas combinam perfeitamente.
- E se não combinassem? - perguntou ela naquele seu tom estranho, algo sarcástico.
- Bem, eu acho que combinam. Deixaram-se então ficar calados durante algum tempo, ali sentados nas trevas do barracão. Desde que se apercebera de que ela era uma mulher, vulnerável e acessível, sentira-se tomado de uma estranha sensação, o espírito opresso e pesado. Não tinha a menor intenção de a possuir, antes pelo contrário. Estremecia à ideia de uma tal proeza, quase que amedrontado. Ela era uma mulher, finalmente vulnerável e acessível ao seu assédio, mas ele evitava antecipar aquilo que o futuro lhe poderia trazer, quase como se isso o apavorasse. Pois este surgia-lhe à semelhança de uma zona de trevas onde sabia que teria de entrar um dia, mas na qual, pelo menos para já, nem sequer queria pensar. Até porque ela era mulher e ele sentia-se responsável pela estranha vulnerabilidade que subitamente descobrira nela.
- Não - disse ela por fim. - Sou uma idiota, é o que é. Disso não restam dúvidas, sou mesmo uma idiota.
- Mas porquê? - perguntou ele.
- Por aceitar continuar com uma conversa destas.
- Referes-te a mim, é isso? - indagou ele.