Estava-se em Dezembro, num fim de tarde de um dia frio e húmido. Uma névoa glacial subia dos bosques e dos vales, enquanto as trevas se adensavam por sobre os campos, prontas a tudo submergirem sob o seu manto negro. Viam-se ainda uns restos de claridade amarelada esmaecendo no horizonte, lá onde o sol começava a desaparecer por detrás dos bosques rasos perdidos na distância. March, pegando no machado, dirigiu-se para a árvore. O baque surdo dos seus golpes, ressoando, débeis, por sobre a quinta, soava de modo assaz ineficaz no ar invernio. Banford viera até cá fora vestida com o seu casaco grosso, mas, dado não trazer chapéu na cabeça, os seus cabelos, curtos e ralos, esvoaçavam sob o vento desagradável que se fazia sentir, zunindo por sobre o bosque, silvando por entre os pinheiros.
- Aquilo de que tenho medo - dizia Banford - é que venha a cair sobre o barracão e que lá tenhamos nós de ter mais um trabalhão a repará-lo.
-- Oh, não me parece - respondeu March, endireitando-se e passando o braço pela testa alagada em suor. Estava terrivelmente afogueada, o rosto todo vermelho, com uma expressão bizarra nos olhos muito abertos, o lábio superior levantado, deixando à mostra os seus dois incisivos, muito brancos e brilhantes, que lhe davam um curioso ar de coelho.
Um homem baixo e corpulento, com um sobretudo preto e um chapéu de coco, chegou saltitando através do pátio. Tinha um rosto rosado e uma barba branca, com uns olhos pequeninos, de um azul pálido. Ainda não era muito velho, mas tinha ar de ser nervoso, no seu andar curto e miúdo.
- O que acha, pai? - perguntou Banford.
- Não acha que pode atingir o barracão quando cair?
- O barracão? Não! Que ideia! - replicou o velhote. - É impossível atingir o barracão. A vedação já não digo, mas o barracão...