William Wilson - Cap. 1: William Wilson Pág. 2 / 27

Quisera que eles descobrissem para mim, nos pormenores que vou fornecer, algum pequeno oásis de fatalidade no meio de um deserto de erros. Gostaria que eles concedessem - como não poderão deixar de conceder que, embora possa alguma vez ter existido tentação igual, nunca qualquer homem foi assim, pelo menos, até hoje tentado - e certamente nunca assim sucumbiu. E será por isso que nunca assim sofreu? Não terei eu realmente vivido num sonho? E não estarei agora prestes a morrer vítima do horror e do mistério da mais insólita de todas as visões sublunares?

Descendo de uma estirpe que sempre se tornou notada pelo seu temperamento imaginativo e facilmente excitável: e durante a primeira infância, revelei bem ter herdado cabalmente o carácter de família. Com o decurso dos anos, este desenvolveu-se cada vez mais fortemente, convertendo-se, por variadas razões, em motivo de séria inquietação para os meus amigos e em causa de verdadeiros males para mim próprio. Tornei-me obstinado, dado aos mais estranhos caprichos e presa das mais incontroláveis paixões. De espíritos fracos e assediados por enfermidades constitucionais semelhantes às minhas, os meus pais pouco podiam fazer para deter a propensão para o mal que me caracterizava. Os débeis e mal orientados esforços que desenvolveram redundaram em completo fracasso seu e, evidentemente, em totais vitórias minhas. A partir de então a minha voz passou a ditar a lei doméstica; e, numa idade em que poucas crianças abandonaram as rédeas, fui deixado à mercê da minha própria vontade e tornei-me, em tudo menos no nome, senhor dos meus actos.

As mais antigas recordações que guardo da vida escolar estão ligadas a uma grande casa isabelina de arquitectura irregular, numa obscura aldeia de Inglaterra, onde havia uma quantidade enorme de gigantescas e nodosas árvores e onde todas as casas eram extremamente antigas.





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