A Origem da Tragédia - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 26 / 164

Dos sonhos dos gregos só é possível falar, apesar de toda a literatura e das numerosas anedotas referentes aos sonhos, com suposições; mas, não obstante, com uma certa segurança; com a capacidade plástica, incrivelmente segura e certa, de seu olhar juntamente com seu claro e franco “desejo da cor” não nos poderemos abster de, para vergonha de todos os pósteros, também para a causalidade lógica e o contorno, cores e grupos, pressupor uma sucessão de cenas comparadas com seus melhores quadros, cuja perfeição nos permitiria, se uma comparação fosse possível, considerar os gregos que sonham como Homeros, e Homero como um grego que sonha; num sentido mais profundo, do que quando o homem moderno, com respeito a seus sonhos, se compara com Shakespeare.

Pelo contrário não necessitamos falar só de conjeturas, quando falamos da enorme diferença que separa os gregos Dionisíacos dos bárbaros dionisíacos. Em todos os pontos do mundo antigo — para aqui deixar de lado o mundo novo — de Roma a Babilônia temos comprovações da existência de festas dionisíacas, cujo tipo se compara ao tipo grego, no melhor dos casos, como o sátiro barbudo, a quem o bode emprestou nome e atributos, se compara ao próprio Dionísio. Quase em todos os lugares se situava, como nestas festas, uma desenfreada indisciplina sexual, cujas ondas passavam por cima de todo sentimento de família e de suas leis veneráveis. Justamente as bestas mais selvagens da natureza aqui se desencadeavam, até aquela mescla abominável de luxúria e crueldade, que sempre me pareceu a “bebida das bruxas” , propriamente dita.





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