Capítulo 5: Capítulo 5
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Contra os sentimentos febris de tais festas, cujo conhecimento veio ter com os gregos por todos os caminhos de mar e terra, estavam estes, ao que parece, durante um bom lapso de tempo completamente seguros e protegidos pela figura de Apolo, que aqui se erigia em todo o seu orgulho, e que não podia opor a cabeça de Medusa a nenhum poder mais perigoso que a este, poder dionisíaco grotescamente rude. É a arte dórica na qual se perpetuou esta atitude majestosa e repelente. Mais duvidosa e mesmo impossível se tornou esta resistência quando afinal, provenientes da raiz mais profunda do helênico, impulsos semelhantes abriram seu caminho: então se resumia o atuar do deus délfico em tirar ao poderoso adversário, mediante uma reconciliação oportuna, a arma destruidora das mãos. Esta reconciliação é o momento mais importante na história do culto grego: onde quer que se fixe o olhar são visíveis as transformações oriundas deste acontecimento. Foi o armistício entre dois adversários, com firme demarcação de limites, que tinham que ser conservados agora, e com a remessa periódica de presentes honoríficos; no fundo, porém, o abismo, entre eles existente, não tinha sido vencido. Se, porém, olhamos para o poder dionisíaco, que sob a pressão daquele tratado de paz se manifestou, então reconhecemos, em comparação com aqueles sakéos babilônicos, o retorno do homem ao tigre e ao macaco, nas orgias dionisíacas dos gregos o significado de festas de redenção do mundo e dias de glorificação. É somente neles que a natureza alcança seu júbilo artístico, é só com eles que o rompimento do principii individuationis se torna um fenômeno artístico. Aquela abominável bebida de bruxas, de luxúria e crueldade não tinha poder aqui; somente a estranha mistura e dualidade nos afetos dos entusiastas dionisíacos a ela recorria — assim como os remédios nos fazem lembrar os venenos mortais —, aquela aparência de que dores provocam o prazer, e que o júbilo tira sons lastimosos do peito.
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