A Origem da Tragédia - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 62 / 164

O coro da tragédia grega, o símbolo de toda a multidão excitada dionisiacamente, encontra nesta nossa conceção sua explicação total. Enquanto que nós, acostumados à posição de um coro no palco moderno, especialmente tratando-se de um coro de ópera, não podemos entender como aquele coro trágico dos gregos pudesse ser mais antigo, mais original e mais importante que a “ação” verdadeira — como foi tão claramente transmitido — enquanto que, por outro lado, não podemos atinar com aquela importância e primordialidade tradicionais — porque fora composto somente por seres inferiores e servis e mesmo, primitivamente, por sátiros parecidos com bodes, enquanto a orquestra diante da cena continuava sendo um enigma para nós; chegámos agora à conclusão de que a cena juntamente com a ação só era, primitivamente, imaginada como uma visão, e que o coro é a única “realidade”, que de si origina a visão, falando desta com todo o simbolismo da dança, do som e da palavra. Este coro, vê em sua visão seu senhor e mestre Dionísio, e é, por isso mesmo, o coro servil, ele vê como o deus sofre e se glorifica, não agindo ele mesmo por esta razão. Nesta posição completamente servil diante do deus, é ele a maior expressão da Natureza, por ser a expressão dionisíaca, e externa por isso, como aquela, oráculos e sentenças sábias; sendo paciente, ele é, também, o sábio, aquele que anuncia a verdade proveniente do coração do mundo. Assim se origina aquela figura fantástica e repugnante do sátiro sábio e entusiasta, que é ao mesmo tempo “o homem ingênuo”, em contraposição ao deus; imagem e reflexo da Natureza e de seus impulsos mais potentes, e símbolo da mesma, sendo ao mesmo tempo arauto de sua sabedoria e de sua arte: músico, poeta, dançarino e visionário em uma só pessoa.





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