Dionísio, herói verdadeiro do palco e ponto central da visão, não existe primitivamente, segundo este conhecimento e segundo a tradição no período mais antigo da tragédia, mas é só representado como existente; quer dizer que a tragédia é, naquele tempo, somente “coro” e não “drama”. Mais tarde experimenta-se mostrar o deus como algo real e de representar, visível a todos, a figura da visão e a moldura glorificante; com isto se inicia o drama em sentido mais restrito. Então é encarregado o coro ditirâmbico de excitar o ânimo dos ouvintes dionisiacamente até um certo grau, a fim de que estes, ao aparecer o herói no palco, não vejam o homem disformemente fantasiado e mascarado, mas sim uma figura de visão, nascida de seu próprio êxtase. Imaginemos Admeto a pensar com profunda cisma em sua esposa Alceste, morta recentemente, consumindo-se totalmente na contemplação espiritual da mesma; de repente se lhe aproxima uma imagem de mulher, de formas parecidas e de andar semelhante, envolta em um véu. Imaginemos a sua repentina perturbação, sua comparação violenta, sua convicção instintiva, e teremos uma analogia do sentimento com o qual, dionisiacamente excitado, o espectador via aproximar-se o deus, no palco, com cujos sofrimentos já se tinha identificado. Involuntariamente transportou toda a imagem, tremulando magicamente ante seu olhar, naquela figura fantasiada, dissolvendo a realidade desta em uma como que fantástica irrealidade. É este o estado de sonho apolínico, no qual se envolve o mundo do dia, nascendo para o nosso olhar em mutações contínuas um mundo novo, mais expressivo, mais inteligível, mais comovedor do que aquele; e mesmo assim mais sombrio.