17.
Os homens mais espirituosos, pressupondo-se que eles são também os mais corajosos, são aqueles que melhor e mais amplamente vivenciam as tragédias mais dolorosas: mesmo por isso, contudo, eles honram a vida; porque ela lhes contrapõe o seu maior antagonismo.
18.
Para a "Consciência Intelectual". - Nada me parece hoje mais raro do que a genuína dissimulação. Eu tenho uma grande suspeita quanto ao fato de o ar brando de nossa cultura não ser propício para esta planta. A dissimulação pertence à era das fortes crenças: à era em que os homens, mesmo coagidos a ostentar uma outra crença, não se apartavam da crença que tinham. Hoje, eles a deixam de lado; ou, o que é ainda mais comum, eles adquirem uma segunda crença - em todo caso, eles permanecem sinceros. Não há a menor dúvida de que hoje existe um número muito maior de possíveis convicções do que outrora: possíveis, isto é, permitidas, isto é, inofensivas. Daí emerge a tolerância para consigo mesmo. - A tolerância para consigo mesmo abre espaço para o surgimento de muitas convicções: estas mesmas convicções convivem tranquilamente umas ao lado das outras - elas se protegem, como todo mundo hoje, da eventualidade de se comprometer. Com o que é que as pessoas se comprometem hoje em dia? Quando se porta uma consequência.