O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 108 / 279

Se então quer prontamente conseguir fortuna, é preciso ser já rico ou então parecê-lo. Para enriquecer, trata-se aqui de dar tacadas fortes, senão especula-se e adeus. Se nas 100 profissões que puder abraçar, se encontra 10 homens que tenham êxito rapidamente, o público apelida-os de ladrões. Tirai as suas conclusões. Eis a vida tal como ela é. Não é mais bela do que a cozinha, cheira igualmente mal, e é preciso sujar as mãos se queremos fazer negócios escuros; saiba no entanto limpar bem a cara: aí está toda a moral da nossa época. Se vos falo assim do mundo, é porque ele me deu esse direito, conheço-o. Pensa que estou a criticá-lo? Nada disso. Sempre foi assim. Os moralistas nunca irão mudar. O homem é imperfeito. Por vezes é mais ou menos hipócrita, e os estúpidos dizem então que tem ou não moral. Não acuso os ricos em favor do povo: o homem é o mesmo em baixo, no meio e em cima. Encontramos por cada milhão deste belo gado dez valentões que se colocam acima de tudo, até das leis: sou um deles. Você, se for um homem superior, vá em linha recta e de cabeça erguida. Mas terá de lutar contra a inveja, a calúnia, a mediocridade, contra todo o mundo. Napoleão encontrou um ministro da guerra que se chamava Aubry e que quase enviou para as colónias. Estude-se a si próprio! Veja se pode levantar-se todas as manhãs com mais vontade do que aquela com que se deitou. No seguimento destas conjunturas, vou fazer-lhe uma proposta que ninguém recusaria. Escute bem. Eu, repare, tenho uma ideia. A minha ideia é ir viver da vida patriarcal no meio de uma grande propriedade, 100000 arpentes, por exemplo, nos Estados Unidos, no sul. Quero aí tornar-me plantado r, ter escravos, ganhar alguns bons milhões vendendo os meus bois, o meu tabaco, as minhas florestas, vivendo como um soberano, satisfazendo as minhas vontades, levando uma vida que não se concebe aqui, onde nos escondemos num buraco sem saída.




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