— Essa Teresa Pança é minha mãe e esse tal Sancho é meu pai, e o cavaleiro de quem falais é nosso amo.
— Pois vinde, donzela — disse o pajem — e levai-me a casa de vossa mãe, porque lhe trago uma carta e um presente de vosso pai.
— Isso farei eu de muito boa vontade, meu senhor — respondeu a moça, que mostrava ter catorze anos de idade, pouco mais ou menos.
E, deixando a roupa que lavava à outra companheira, sem se pentear nem se calçar, que estava de pé descalço, e desgrenhada, saltou adiante da cavalgadura do pajem e disse:
— Venha Vossa Mercê, que à entrada do povo fica a nossa casa, e ali está minha mãe com muita pena de não saber há imenso tempo de meu pai.
— Pois eu trago-lhe notícias tão boas — disse o pajem — que tem que dar por elas muitas graças a Deus.
Finalmente, correndo, saltando e brincando, chegou a rapariga à povoação e, antes de entrar em casa, disse da porta a grandes brados:
— Saia, mãe Teresa, saia, saia, que vem aqui um senhor, que traz carta e outras coisas de meu pai.
A estes brados saiu Teresa, sua mãe, fiando uma maçaroca de estopa, com uma saia parda muito curta e um corpete pardo também. Não era velha ainda: mostrava passar dos quarenta; mas forte, tesa e membruda; e, vendo sua filha e o pajem a cavalo, disse:
— Que é isto, rapariga? que senhor é este?
— É um servo de D.