— Pode muito bem ser assim — replicou o bacharel — mas dubitat Augustinus.
— Duvide quem quiser — respondeu o pajem — a verdade é o que eu disse, que há-de sobrenadar sempre na mentira, como o azeite na água; e, senão, operibus credite et non verbis; venha algum de Vossas Mercês comigo e verá com os olhos o que não acredita com os ouvidos.
— A mim é que me compete ir — observou Sanchita — leve-me Vossa Mercê na garupa do seu cavalo, que irei de muito boa vontade ver meu senhor pai.
— As filhas dos governadores não podem andar sozinhas por essas estradas, mas sim com liteiras e carruagens e grande número de servos.
— Por Deus! — respondeu Sanchita — ia tão bem a cavalo numa eguazita como metida num coche; eu cá não sou melindrosa.
— Cala-te, rapariga — acudiu Teresa — que não sabes o que dizes; e este senhor tem razão, que a todo o tempo é tempo, e quando Sancho era só Sancho, eras tu Sancha, mas quando Sancho é governador, és tu senhora.
— Diz muito bem a senhora Teresa — acudiu o pajem — e deem-me de comer e despachem-me já, porque tenciono partir esta mesma tarde.
— Quer Vossa Mercê fazer penitência comigo? — disse o cura — a senhora Teresa tem mais boa vontade do que alfaias, para servir a tão honrado hóspede.
Recusou o pajem ao princípio; mas, afinal, teve de aceder e o cura levou-o consigo com muito gosto, para poder interrogá-lo, de seu vagar, a respeito de D.