— Sempre tive desconfianças — disse Ricote — de que esse sujeito namorava a minha filha; mas, fiado no valor da Ricota, nem me afligiu o saber que ele lhe queria bem; pois terás ouvido dizer, Sancho, que as mouriscas poucas vezes ou nenhumas se mesclaram por amores com cristãos-velhos; e minha filha, que mais pensava em ser cristã, que em ser enamorada, pouco se importaria com as solicitudes do senhor morgado.
— Deus queira! — replicou Sancho — que a ambos lhes ficaria mal; e deixa-me ir embora daqui, Ricote amigo, que ainda quero chegar esta noite ao sítio onde está meu amo D. Quixote.
— Vai com Deus, Sancho mano, que também os meus companheiros já se mexem, e são horas de prosseguirmos o nosso caminho.
Abraçaram-se ambos, Sancho montou no ruço, Ricote animou-se ao bordão, e apartaram-se.