Voltei a cabeça para olhar para a estante atrás de mim. Quando me tornei a virar, Sherlock Holmes estava a sorrir-me do outro lado da secretária. Levantei-me, olhei fixamente para ele durante alguns segundos, perfeitamente espantado e depois, ao que parece, devo ter desmaiado pela primeira e última vez na minha vida. De facto uma névoa cinzenta redemoinhou à frente dos meus olhos e, quando desapareceu, verifiquei que tinha o colarinho desapertado e senti o sabor a brande nos lábios. Holmes estava inclinado sobre a minha cadeira com o seu frasco de brande na mão.
- Meu caro Watson - disse a voz que eu também conhecia - devo-lhe mil desculpas. Não fazia ideia de que ficaria tão perturbado.
Agarrei-o pelos braços.
- Holmes! - gritei. - É mesmo você? É de facto possível que esteja vivo? É possível que tenha conseguido sair daquele horrível abismo?
- Espere um momento - disse ele. - Tem a certeza de que se sente suficientemente bem para discutir estas coisas? Causei-lhe um sério choque com a minha reaparição desnecessariamente dramática.
- Estou bem. Holmes, mas de facto mal consigo acreditar no que vêem os meus olhos. Santo Deus! Pensar que você… você. Sherlock... está aqui no meu escritório. - Voltei a agarrá-lo pela manga do casaco, sentindo o braço magro e musculoso. - Bom, seja como for não é um espírito. - disse. - Meu caro, estou fora de mim de alegria por o ver. Sente-se e conte-me como é que saiu com vida daquele terrível abismo.. . .
Sherlock Holmes sentou-se à minha frente e acendeu um cigarro com o mesmo gesto indiferente de sempre.