O Cortiço - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 98 / 239

soltou uma palavrada, que enfureceu a velha.

— Ah, sim?! bradou esta. Pois veremos!

E despejou da venda, gritando para todos:

— Sabe? O cara de nabo diz que não casa!

Esta frase produziu o efeito de um grito de guerra entre as lavadeiras, que se reuniram de novo, agitadas por uma grande indignação.

— Como, não casa?!...

— Era só o que faltava!

— Tinha graça!

— Então mais ninguém pode contar com a honra de sua filha?

— Se não queria casar pra que fez mal?

— Quem não pode com o tempo não inventa modas!

— Ou ele casa ou sai daqui com os ossos em sopa!

— Quem não quer ser loto não lhe vista a pele!

A mais empenhada naquela reparação era a Machona, e a mais indignada com o fato era a Dona Isabel. A primeira correra à frente da venda, disposta a segurar o culpado, se este tentasse fugir. Com o seu exemplo não tardou que em cada porta, onde era possível uma escapula, se postassem as outras de sentinela, formando grupos de três e quatro. E, no meio de crescente algazarra, ouviam-se pragas ferozes e ameaças:

— Das Dores! toma cuidado, que o patife não espirre por ai!

— Ó seu João Romão, se o homem não casa, mande-no-lo pra cá! Temos ainda algumas pequenas que lhe convêm!

— Mas onde está esse ordinário?!

— Saia o canalha!

— Está fazendo a trouxa!

— Quer escapar!

— Não deixe sair!

— Chame a polícia!

— Onde está o Alexandre?

E ninguém mais se entendia. À vista daquela agitação, o vendeiro foi ter com o Domingos.

— Não saia agora, ordenou-lhe. Deixe-se ficar por enquanto. Logo mais lhe direi o que deve fazer.

E chegando a uma das portas que davam para a estalagem, gritou:

— Vá de rumor! Não quero isto aqui! É safar!

— Pois então o homem que case! responderam.

— Ou dê-nos pra cá o patife!

— Fugir é que não!

— Não foge! não deixa fugir!

— Ninguém se arrede!

E, como a Marciana lhe lançasse uma injúria mais forte, ameaçando-o com o punho fechado, o taverneiro jurou que, se ela insistisse com desaforos, a





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