O Cortiço - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 97 / 239

lateral da venda, berrou:

— Ó seu João Romão!

— Que temos lá? perguntou de dentro o vendeiro, atrapalhado de serviço.

Bertoleza, com uma grande colher de zinco gotejante de gordura, apareceu à porta, muito ensebada e suja de tisna; e, ao ver tanta gente reunida, gritou para seu homem:

— Corre aqui, seu João, que não sei o que houve!

Ele veio afinal.

Que diabo era aquilo?

— Venho entregar-lhe esta perdida! Seu caixeiro a cobriu, deve tomar conta dela!

João Romão ficou perplexo.

— Hein! Que é lá isso?!

— Foi o Domingos! disseram muitas vozes.

— O seu Domingos!

O caixeiro respondeu: “Senhor...” com uma voz de delinquente.

— Chegue cá!

E o criminoso apresentou-se, lívido de morte.

— Que fez você com esta pequena?

— Não fiz nada, não senhor!...

— Foi ele, sim! desmentiu-o a Florinda. — O caixeiro desviou os olhos, para a não encarar. — Um dia de manhãzinha, às quatro horas, no capinzal, debaixo das mangueiras...

O mulherio em massa recebeu estas palavras com um coro de gargalhadas.

— Então o senhor anda-me aqui a fazer conquistas, hein?!... disse o patrão, meneando a cabeça. Muito bem! Pois agora é tomar conta da fazenda e, como não gosto de caixeiros amigados, pode procurar arranjo noutra parte!...

Domingos não respondeu patavina; abaixou o rosto e retirou-se lentamente.

O grupo das lavadeiras e dos curiosos derramou-se então pela venda, pelo portão da esta agem, pelo frege, por todos os lados, repartindo-se em pequenos magotes que discutiam o fato. Principiaram os comentários, os juízos pró e contra o caixeiro; fizeram-se profecias.

Entretanto, Marciana, sem largar a filha, invadira a casa de João Romão e perseguia o Domingos que preparava já a sua trouxa.

— Então? perguntou-lhe. Que tenciona fazer?

Ele não deu resposta.

— Vamos! vamos! fale! desembuche!

— Ora lixe-se! resmungou o caixeiro, agora muito vermelho de cólera. — Lixe-se, não!... Mais devagar com o andor! Você há de casar: ela é menor!

Domingos





Os capítulos deste livro