A Escrava Isaura - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 112 / 185

Naquela noite pois o apaixonado mancebo, rendido e deslumbrado mais que nunca pelos novos encantos e atrativos que Elvira alardeava entre os esplendores do baile, não pôde e nem quis dilatar por mais tempo a declaração, que a cada instante lhe ardia nos olhos, e esvoaçava pelos lábios, e apenas achou-se em lugar onde pudesse não ser ouvido senão de Elvira:

- D. Elvira, - lhe disse com voz grave e comovida, - se a senhora é um anjo em sua casa, nos salões do baile é uma deusa. O meu coração há muito já lhe pertence; sinto que o meu destino de hoje em diante depende só da senhora. Funesta ou propícia, a senhora será sempre a minha estrela nos caminhos da vida. Creio que me conhece bastante para acreditar na sinceridade de minhas palavras. Sou senhor de uma fortuna considerável; tenho posição honrosa e respeitável na sociedade; mas não poderia jamais ser feliz, se a senhora não consentir em partilhar comigo esses bens, que a fortuna prodigalizou-me.

Estas palavras de Álvaro, tão meigas, tão repassadas do mais sincera e profundo amor, que em outras condições teriam caído como bálsamo celeste sobre o coração de Isaura a banhá-lo em inefáveis eflúvios de ventura, eram agora para ela como um atroz e pungente sarcasmo do destino, um hino do céu ouvido entre as torturas do inferno. Via de um lado um anjo, que, tomando-a pela mão com um suave sorriso, mostrava-lhe um éden de delícias, ao qual se esforçava por conduzi-la, enquanto de outro lado a hedionda figura de um demônio atava-lhe ao pé um pesado grilhão, e com todo o seu peso a arrastava para um gólfão de eternos sofrimentos.





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