A Escrava Isaura - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 116 / 185

- Nessa não caio eu, que não hei de perder o meu tempo, e o meu trabalho, e nem os meus cinco contos. - Estas últimas palavras resmungou-as ele entre os dentes.

- Senhor Martinho, por favor queira não abusar mais da minha paciência. Se não quer dizer ao que veio, ponha-se já longe da minha presença...

- Oh! senhor! retorquiu Martinho, sem se perturbar; - já que a isso me força, pouco me custa fazer-lhe a vontade, e com bastante pesar tenho de declarar-lhe, que essa senhora a quem dá o braço, é uma escrava fugida!...

Álvaro, se bem que conhecesse a vilania e impudência do caráter de Martinho, no primeiro momento ficou pasmo ao ouvir aquela súbita e imprevista delação. Não podia dar-lhe crédito, e refletindo um instante confirmou-se mais na ideia de que tudo aquilo não passava de uma farsa posta em jogo por algum indigno rival, com o fim de desgostá-lo ou insultá-lo. A pessoa do Martinho, que não poucas vezes, na qualidade de truão ou palhaço, servia de instrumento às vinganças e paixões mesquinhas de entes tão ignóbeis como ele, servia para justificar a desconfiança de Álvaro, que acabou por não sentir senão asco e indignação por tão infame procedimento.

- Senhor Martinho, - bradou ele com voz severa, - se alguém pagou-lhe para vir achincalhar-me a mim e a esta senhora, diga quanto ganha, que estou pronto a dar-lhe o dobro para nos deixar em paz.

A esta sanguinolenta afronta, a larga e impudente cara do Martinho nem de leve se alterou, e por única resposta:

- Torno a repetir, - bradou com todo o descaramento, - e em voz bem alta, para que todos ouçam: esta senhora que aqui se acha, é uma escrava fugida, e eu estou encarregado de apreendê-la e entregá-la a seu senhor.





Os capítulos deste livro