A Escrava Isaura - Cap. 19: Capítulo 19 Pág. 158 / 185

Fora das mãos desse moço que ele a fora tomar no Recife. Malvina, moça ingênua e crédula, com um coração sempre propenso à ternura e ao perdão, deu pleno crédito a tudo quanto aprouve a Leôncio inventar não só para justificar suas faltas passadas, como para predispor o comportamento que dai em diante pretendia seguir.

Na qualidade de esposa ofendida irritara-se outrora contra Isaura, quando surpreendera seu marido dirigindo-lhe falas amorosas; mas o seu rancor ia-se amainando, e se desvaneceria de todo, se Leôncio não viesse com falsas e aleivosas informações atribuir-lhe os mais torpes procedimentos. Malvina começou a sentir por Isaura desde esse momento, não ódio, mas certo afastamento e desprezo, mesclado de compaixão, tal qual sentiria por outra qualquer escrava atrevida e mal comportada.

Era quanto bastava a Leôncio para associá-la ao plano de castigo e vingança, que projetava contra a desditosa escrava. Bem sabia que Malvina com a sua alma branda e compassiva jamais consentiria em castigos cruéis; o que meditava, porém, nada tinha de bárbaro na aparência, se bem que fosse o mais humilhante e doloroso flagício imposto ao coração de uma mulher, que tinha consciência de sua beleza, e da nobreza e elevação de seu espírito.

- E o que pretendes fazer de Isaura? -perguntou Malvina.

- Dar-lhe um marido e carta de liberdade.

- E já achaste esse marido?

- Pois faltam maridos?... para achá-lo não precisei sair de casa.

- Algum escravo, Leôncio?... oh!... isso não.

- E que tinha isso, uma vez que eu também forrasse o marido? era cré com cré, lé com lé. Bem me lembrei do André, que bebe os ares por ela; mas por isso mesmo não a quero dar àquele maroto. Tenho para ela peça muito melhor.

- Quem, Leôncio?

- Ora quem!... o Belchior.





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