A Escrava Isaura - Cap. 21: Capítulo 21 Pág. 172 / 185

A crer no que dizia, andava sempre cheio de afazeres e dando andamento a mil negócios importantes, mas estava sempre pronto a prescindir deles a convite de qualquer desses amigos para passar uns oito ou quinze dias em sua companhia.

Na solidão em que Leôncio se achou depois de seu rompimento com Malvina, Jorge foi para ele um excelente recurso quando se achava na fazenda. Servia-lhe de companheiro não só à mesa, como ao jogo e à caça: entretinha-o a contar-lhe anedotas divertidas e escandalosas, aplaudia-lhe os desvarios e extravagâncias, e lisonjeava-lhe as ruins paixões, enquanto Leôncio, que o acreditava realmente um amigo, fazia dele o seu confidente, e comunicava-lhe os seus mais íntimos pensamentos, os seus planos de perversidade, e os mais secretos negócios de família.

Para melhor entrarmos no mistério dos planos atrozes e ignóbeis, das satânicas maquinações de Leôncio, ouçamos a conversação íntima, que vão tratar estes dois entes dignos um do outro.

- Até que por fim, Jorge, achei um meio engenhoso e seguro de aplanar todas as dificuldades. Desta maneira espero que tudo se vai arranjar ás mil maravilhas.

- Seguramente, e já de antemão te dou os parabéns pelos teus triunfos, e aplaudo-te pela feliz combinação de teus planos.

- Mas escuta ainda para melhor poderes compreendê-los. Com este casamento ficam satisfeitos os desejos de minha mulher, sem que Isaura escape de todo ao meu poder. Como o pai dela está debaixo de minha restrita dependência, eu saberei reter junto de mim esse estúpido jardineiro com quem caso-a, e depois... tu bem sabes, o tempo e a perseverança amansam as feras mais bravias. Entretanto a atrevida escrava receberá o castigo que merece sua inqualificável rebeldia.





Os capítulos deste livro