Isaura não teve muito tempo para dar larga expansão às suas angustiosas reflexões. Ouviu rumor na porta, e levantando os olhos viu que alguém se encaminhava para ela.
- Ai! meu Deus! - murmurou consigo. - Aí temos nova importunação! nem ao menos me deixam ficar sozinha um instante. Quem entrava era, sem mais nem menos, o pajem André, que já vimos em companhia do feitor, e que mui ancho, empertigado e petulante se foi colocar defronte de Isaura.
- Boa tarde, linda Isaura. Então, como vai essa flor? - saudou o pachola do pajem com toda a faceirice.
- Bem, - respondeu secamente Isaura.
- Estás mudada?...
- Tens razão, mas é preciso ir-se acomodando com este novo modo de vida.
- Deveras que para quem estava acostumada lá na sala, no meio de sedas e flores e águas-de-cheiro, há de ser bem triste ficar aqui metida entre estas paredes enfumaçadas que só tresandam a sarro de pito e morrão de candeia.
- Também tu, André, vens por tua vez aproveitar-te da ocasião para me atirar lama na cara?...
- Não, não, Isaura; Deus me livre de te ofender; pelo contrário, dói-me deveras dentro do coração ver aqui misturada com esta corja de negras beiçudas e catinguentas uma rapariga como tu, que só merece pisar em tapetes e deitar em colchões de damasco. Esse senhor Leôncio tem mesmo um coração de fera.
- E que te importa isso? eu estou bem satisfeita aqui.