- “Henriqueta...”
Esta palavra foi um abalo que fez vibrar todas a fibras de Elisa. O rosto incendiou-se-lhe daquele encarnado do pudo ou da raiva. Esta sensação violenta não podia ser desapercebida. O visconde, que parecia estranho à conversação íntima daquelas supostas amigas, não o pôde ser à agitação febril de sua filha.
- “Que tens, Elisa?!” - perguntou ele sobressaltado.
- “Nada, meu pai... Foi um ligeiro incómodo... Estou quase boa...”
- “Se queres respirar vamos ao salão, ou vamos para casa...”
- “Antes para casa” - respondeu Elisa.
- “Eu vou mandar buscar a sege” - disse o visconde; e retirou-se.
- “Não vás, Elisa...” - disse o dominó, com uma voz imperiosa, semelhante a uma ameaça inexorável. - “Não vás... Porque, se vais, contarei a toda a gente uma história que só tu hás-de-saber. Este outro dominó, que tu não conheces, é um cavalheiro: não temas a menor imprudência.”
- “Não me martirizes!” - disse Elisa. - “Eu sou infeliz de mais, para ser flagelada com a tua vingança... Tu és Henriqueta, não és?”
- “Que te importa a ti saber quem eu sou?!...”
- “Importa muito... Sei que és desgraçada!... Não sabia que vivias no Porto; mas palpitou-me o coração que eras tu, apenas me chamaste Laura.”
O visconde entrou afadigado, dizendo que a sege não podia tardar, e convidando a filha para dar alguns passeios no salão do teatro. Elisa satisfez a carinhosa ansiedade do pai, dizendo que se sentia boa, e pedindo-lhe que se demorasse até mais tarde.
- “Onde julgavas tu que eu existia? No cemitério, não é assim?” - perguntou Henriqueta.
- “Não, sabia que vivias, e profetizava que devia encontrar-te... Que história me queres tu contar?... A tua? Essa já eu sei... Imagino-a... Tens sido muito infeliz.