.. Olha, Henriqueta... Deixa-me dar-te esse tratamento afectuoso com que nos conhecemos, com que fomos tão amigas, alguns fugitivos dias, no tempo em que o destino nos marcava com o mesmo estigma de infortúnio...”
- “O mesmo... Não!...” - atalhou Henriqueta.
- “O mesmo, sim, o mesmo... E se me forças a contradizer-te, direi que invejo a tua sorte, seja ela qual for...”
Elisa chorava, e Henriqueta emudecera. Carlos estava impaciente pelo desfecho desta aventura, e desejava, ao mesmo tempo, reconciliar estas duas mulheres, e fazê-las amigas, sem saber a razão porque eram inimigas. A beleza impõe-se à compaixão. Elisa era bela, e Carlos era de uma sensibilidade extremosa. A máscara poderia ser, mas a outra era um anjo de simpatia e formosura. O espírito gosta do mistério que esconde o belo; mas decide-se pela beleza real, sem mistério.
Henriqueta, depois de alguns minutos de silêncio, durante os quais não era possível avaliar-lhe o coração pela exterioridade da fisionomia, exclamou com ímpeto, como se despertasse de um sonho, daqueles íntimos sonhos de dor, em que a alma se reconcentra:
- “Teu marido?”
- “Está em Londres.”
- “Há quanto tempo não o vês?”
- “Há dois anos.”
- “Abandonou-te?”
- “Abandonou-me.”
- “E tu?... Abandonaste-o?”
- “Não concebo a pergunta...”
- “Ainda o amas?”
- “Ainda...”
- “Com paixão?”
- “Com delírio...”
- “Escreves-lhe?”
- “Não me responde... Despreza-me, e chama-me Laura.”
- “Elisa!” - disse Henriqueta, com a voz trémula, e apertando-lhe a mão com entusiasmo nervoso - “Elisa! Perdoo-te... És bem mais desgraçada que eu, porque tens um homem que pôde chamar-te Laura, e eu não tenho senão um nome... Sou Henriqueta! Adeus.”
Carlos pasmou do desenlace cada vez mais embrulhado daquele prólogo de um romance.