Imaginem, portanto, a inquietação daquele grande espiritualista, quando viu passarem, vagarosos e enfadonhos, oito dias, sem que o mais ligeiro indício lhe viesse confirmar a existência de Henriqueta! Não direi que o desesperado amante apelou para o supremo tribunal das paixões impossíveis. O suicídio não lhe passou nunca pela imaginação; e muito sinto que esta verdade diminua as simpatias que o meu herói poderia granjear. A verdade, porém, é que o apaixonado mancebo vivia sombrio, isolava-se contra os seus hábitos socialmente galhofeiros, abominava as impertinências de sua mãe que o consolava com anedotas trágicas a respeito de rapazes cegos de amor, e, enfim, sofrera a ponta tal que resolvera abandonar Portugal, se, no fim de quinze dias, a fatídica mulher continuasse a ludibriar a sua esperança.
Diga-se, porém, em honra e louvor da astúcia humana: Carlos, resolvido a partir, lembrou-se de pedir a um seu amigo, que, na gazetilha do Nacional, dissesse, por exemplo, o seguinte: “O Sr. Carlos de Almeida vai, no próximo paquete, para Inglaterra. S. Sª tenciona observar de perto a civilização das primeiras capitais da Europa. O Sr. Carlos de Almeida é uma inteligência, que, enriquecida pela instrução prática da sua visita aos focos da civilização, há-de voltar à sua pátria com fecundo cabedal de conhecimentos em todos os ramos das ciências humanas. Fazemos votos por que S. Sª se recolha em breve ao seio dos seus numerosos amigos.”
Esta local bem podia ser que chegasse às mãos de Henriqueta.