» Comecei então a pensar em minha mãe, em meu irmão, na minha honra, na minha infância, na memória deslustrada de meu pai, na tranquilidade de minha vida até ao momento em que me atirei à lama e salpiquei com ela a face da minha família.
» Peguei na pena para escrever a minha mãe. Escrevera a primeira palavra, quando compreendi o vexame, a degradação e a vilania com que ousava apresentar-me àquela virtuosa senhora, com a face manchada de nódoas, contagiosas. Repeli com nobreza esta tentação, e desejei, naquele instante, que minha mãe me julgasse morta.
» Em Londres vivíamos numa hospedaria, depois que Vasco perdeu o medo a meu irmão. Viera aí hospedar-se uma família portuguesa. Era o visconde do Prado, e sua mulher, e uma filha. O visconde relacionou-se com Vasco, e a viscondessa e sua filha visitaram-me, tratando-me como irmã de Vasco.
» Agora, Carlos, esquece-te de mim, e satisfaz a tua curiosidade na história desta gente, que já conheceste no camarote da segunda ordem.
» Mas não posso agora dispor de mim... Saberás, alguma vez, a razão por que não pude continuar esta carta.
» Adeus, até outro dia.