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Capítulo 6: VI

Página 29

» Fugimos de Lisboa para Espanha. Um dia entrou Vasco, alvoroçado, pálido e febril daquela febre de medo, que, realmente, era, até então, a única face prosaica do meu amante. Emalámos a toda a pressa, e partimos para Londres. É que Vasco de Seabra vira meu irmão em Madrid.

» Vivemos em um bairro retirado de Londres. Vasco tranquilizou-se, porque lhe afiançaram de Lisboa a volta de meu irmão, que perdera as esperanças de encontrar-me.

» Se me perguntas como era a vida íntima destes dois fugitivos, aos quais não faltava condição alguma das aventuras românticas de um rapto, dir-ta-ei em poucas linhas.

» O primeiro mês das nossas núpcias de emboscada foi um sonho, uma febre, uma anarquia de sensações que, levadas ao extremo do gozo, pareciam tocar as raias do sofrimento. Vasco parecia-me um Deus, com as sedutoras fraquezas de um homem; queimava-me com o seu fogo, divinizava-me com o seu espírito; levava-me de mundo em mundo à região dos anjos onde a vida deve ser o êxtase, o arroubamento, a alienação com que a minha alma se derramava nas sensações ardentíssimas daquele homem.

» No segundo mês, Vasco de Seabra disse-me pela primeira vez “que era muito meu amigo”. O coração pulsava-lhe vagaroso, os olhos não faiscavam electricidade, os sorrisos eram frios... Os meus beijos já os não aqueciam naqueles lábios! ‘Sinto por ti uma sincera estima.’ Quanto isto se diz, depois de um amor vertiginoso, que não sabe as frases triviais, a paixão está morta. E estava...

» Depois, Carlos, falávamos em literatura, analisávamos as óperas, discutíamos os méritos dos romances, e vivíamos em academia permanente, quando Vasco me não deixava quatro, cinco e seis horas entregue às minhas inocentes recreações científicas.

» Vasco cansara-se de mim.

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Capa do livro Coisas que só eu sei
Páginas: 51
Página atual: 29

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 7
III 12
IV 18
V 22
VI 27
VII 32
VIII 36
IX 40
X 46