Coisas que só eu sei - Cap. 10: X Pág. 49 / 51

Henriqueta revolvia no pensamento a indústria com que o seu segredo fora violado. Carlos invocava ao coração palavras que o salvassem daquela crise, que o materializava por ter tocado o extremo do espiritualismo.

Não nos faremos cargo de satisfazer as despóticas exigências do leitor, que pede contas das interjeições e das reticências de um diálogo.

O que podemos garantir-lhe, debaixo da nossa palavra de folhetinista, é que a musa das lamentações desceu à invocação de Carlos, que, por fim, desenvolveu toda a eloquência da paixão. Henriqueta ouviu-o com a seriedade com que uma rainha absoluta escuta um ministro da fazenda, que lhe conta os chatíssimos e maçudos negócios das finanças.

Sorria-se, às vezes, e respondia com um ressaibo de mágoa e de ressentimento, que matava, no nascedouro, os transportes do seu infeliz amante.

As suas últimas palavras, essas sim, são signas de se arquivarem para escarmento daqueles que se julgam herdeiros dos raios de Júpiter Olímpico, quando se empavonam de fulminar as mulheres que tiveram a desventura de se queimarem, como as mariposas, no lume eléctrico de seus olhos. Foram estas as suas palavras:

- “Sr. Carlos! Até hoje os nossos espíritos viveram ligados por umas núpcias que eu pensei não perturbarem a nossa cara tranquilidade, nem escandalizarem a caprichosa opinião pública. De ora em diante, um solene divórcio entre os nossos espíritos. Estou punida de mais. Fui fraca e talvez má, em prender-lhe a sua atenção num baile mascarado. Perdoe-me, que sou, por isso, mais desgraçada do que pensa. Seja meu amigo. Não me envenene esta santa obscuridade, este círculo estreito da minha vida, em que a mão de Deus tem derramado algumas flores. Se não pode avaliar o travo das minhas lágrimas,





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