respeite cavalheiramente uma mulher que lhe pede com as mãos erguidas o favor, a piedade de a deixar sozinha com o segredo da sua desonra, que eu prometo nunca mais alargar a minha alma nestas revelações, que morreriam comigo, se eu pudesse suspeitar que atraía com elas a minha desgraça...”
Henriqueta continuava, quando Carlos, com lágrimas de uma dor sincera, lhe pedia ao menos a sua estima, e lhe entregava as suas cartas, debaixo do sagrado juramento de nunca mais a procurar.
Henriqueta, entusiasmada pelo patético desta nobre rogativa, apertou ansiosamente a mão de Carlos, e despediram-se…
E nunca mais se viram.
Mas o leitor tem o direito a saber mais alguma coisa.
Carlos, um mês depois, partiu para Lisboa, colheu as necessárias informações, e entrou em casa da mãe de Henriqueta. Uma senhora, vestida de luto, e encostada a duas criadas, veio encontrá-lo numa sala.
- “Não tenho a honra de conhecer...” - disse a mãe de Henriqueta.
- “Sou um amigo...”
- “De meu filho?!...” - interrompeu ela. - “Vem-me dar parte do triste acontecimento?... Eu já o sei!... Meu filho é um assassino!...”
E prerrompeu num choro, que a não deixava articular palavras.
- “O filho de V. Exa assassino!...” - interpelou Carlos.
- “Sim... Sim... Pois não sabe que ele matou em Londres o sedutor da minha desgraçada filha?!... da minha filha... assassinada por ele...”
- “Assassinada, sim, mas só na sua honra” - atalhou Carlos.
- “Pois minha filha vive!... Henriqueta vive!... Oh meu Deus, meu Deus, eu vos agradeço!...”
A pobre senhora ajoelhou, as criadas ajoelharam com ela, e Carlos sentiu um calafrio nervoso, e uma exaltação religiosa, que quase o fizeram ajoelhar com aquele grupo de mulheres, cobertas de lágrimas...
Dias depois, Henriqueta era procurada no seu terceiro andar, por seu irmão, e choravam ambos abraçados com toda a expansão de uma dor represada.