A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 358 / 359

O meu filho, sempre respeitoso e gentil, recebeu-me na sua própria casa, pagou-me as minhas cem libras e carregou-me novamente de presentes no regresso.

Pouco tempo depois disso informei-o de que casara e convidei-o a visitar-nos, e o meu marido escreveu-lhe também uma carta muito simpática no mesmo sentido. Visitou-nos alguns meses depois, por acaso na altura em que chegavam as mercadorias que mandara vir de Inglaterra, as quais lhe dei a entender que pertenciam todas ao meu marido, não a mim.

Devo acrescentar que, depois da morte do desgraçado do meu irmão (marido), contei tudo ao meu marido, sem ocultar que o primo de que lhe falara era meu próprio filho, nascido daquele infeliz casamento. Não se perturbou de maneira nenhuma e afirmou que lhe teria sido indiferente se o velhote, como lhe chamava, continuasse vivo, «pois a culpa não foi tua nem dele, tratou-se somente de um erro impossível de prever». Censurou-lhe apenas que tivesse desejado que eu ocultasse o facto e continuasse a viver com ele como esposa, depois de saber que era meu irmão; isso, afirmou, fora reles. Assim, todas as dificuldades se aplanaram e vivemos juntos com o maior carinho e conforto imaginável. Somos velhos agora; eu regressei a Inglaterra quase com setenta anos, tinha o meu marido sessenta e oito, depois de ter cumprido muito mais que o prazo do meu degredo. Presentemente, não obstante todas as fadigas e todas as misérias por que passamos, temos ambos saúde e somos felizes. O meu marido continuou na colónia algum tempo depois da minha vinda, para arrumar os nossos negócios, e ao princípio pensei voltar para junto dele, mas, por desejo seu, não o fiz e foi ele quem regressou a Inglaterra, onde resolvemos passar o resto da nossa vida em penitência sincera do nosso passado de pecado.





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