Mas sempre que caía em meditação, sempre que ficava meio absorta, meio consciente daquilo que tinha lugar sob os seus olhos, então era o raposo que, de algum modo, lhe dominava o inconsciente, apossando-se da sua mente errante, disponível. E foi assim durante semanas, durante meses. Não interessava que estivesse a trepar às macieiras, a apanhar as últimas ameixas, a cavar o fosso da lagoa dos patos, a limpar o celeiro, pois quando se endireitava, quando afastava da testa as madeixas de cabelo, voltando a franzir a boca daquela forma estranha, crispada, que lhe era habitual, dando-lhe um ar demasiado envelhecido para a idade, era mais do que certo voltar a sentir o espírito dominado pelo velho apelo do raposo, tão vivo e intenso como quando ele a olhara. Nessas ocasiões, era quase como se conseguisse sentir-lhe o cheiro. E isso acontecia-lhe sempre nos momentos mais inesperados, quer à noite quando estava para se ir deitar, quer quando deitava água no bule para fazer chá: lá estava o raposo, dominando-a com o seu fascínio, enfeitiçando-a, subjugando-a.
E assim se passaram alguns meses. Inconscientemente, ela continuava a ir à procura dele sempre que se encaminhava para os lados do bosque. Ele tornara-se-lhe num estigma, numa impressão obsessiva, num estado de espírito permanente, não contínuo mas recorrente, em constante afluxo. Não sabia aquilo que sentia ou pensava: pura e simplesmente, um tal estado invadia-a, dominava-a, tal e qual como quando ele a olhara.
Os meses foram passando, chegaram as noites escuras, pesadas, chegou Novembro, sombrio, ameaçador, época em que March andava de botas altas, os pés mergulhados na lama até ao tornozelo, tempo em que às quatro horas já era de noite, em que o dia nunca