chegava propriamente a nascer. Ambas as raparigas temiam aquele tempo. Temiam a escuridão quase contínua que as rodeava, sozinhas na sua pequena quinta junto ao bosque, triste e desolada. Banford tinha medo, um medo físico, concreto. Tinha medo dos vagabundos, receava que alguém pudesse aparecer por ali a rondar. March não tinha tanto medo, era mais uma sensação de desconforto, de turbação. Sentia por todo o corpo como que um constrangimento, uma melancolia, e isso, sim, também a afetava fisicamente.
Usualmente, as duas raparigas tomavam chá na sala de estar. Ao anoitecer, March acendia a lareira, deitando-lhe a madeira que cortara e serrara durante o dia. Tinham então pela frente a longa noite, sombria, húmida, escura lá fora, solitária e um tanto opressiva portas adentro, algo lúgubre mesmo. March preferia não falar, mas Banford não podia estar calada. Bastava-lhe ouvir o vento silvando lá fora por obre os pinheiros ou o simples gotejar da chuva para ficar com os nervos arrasados.
Uma noite, depois de tomarem chá e lavaram as chávenas na cozinha, retomaram à sala. March pôs os seus sapatos de trazer por casa e pegou no trabalho de croché, coisa que fazia de vez em quando com grande lentidão. Depois, quedou-se silenciosa. Banford ficou diante da lareira, olhando o fogo rubro, pois este, sendo de lenha, exigia uma constante atenção. Estava com receio de começar a ler demasiado cedo, já que os seus olhos não suportavam grandes esforços. Assim, sentou-se a olhar o fogo, ouvindo os sons perdidos na distância, o mugido do gado, o monótono soprar do vento, pesado e húmido, o estrépito do comboio da noite na pequena linha férrea não muito longe dali. Começava a estar como que fascinada pelo fulgor sanguíneo do fogo que ardia.