O Raposo - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 102 / 111

Sim, não mais voltaria a deixá-lo. Ele tinha-a conquistado. E ele sabia disso, por isso rejubilava. Pois queria-a para sua mulher, a sua vida necessitava dela. E agora conquistara-a. Conquistara-a, conquistara finalmente aquilo de que a sua vida tanto necessitava.

Mas, se bem que a tivesse conquistado, ela ainda lhe não pertencia. Casaram, pois, pelo Natal conforme planeado, pelo que ele voltou a obter uma licença de dez dias. Foram então para a Cornualha, para a aldeia donde ele era natural, mesmo junto ao mar. Pois ele apercebera-se de que seria terrível para ela continuar na quinta por muito mais tempo.

Mas, ainda que ela agora lhe pertencesse, ainda que vivesse na sua sombra, como se não pudesse estar longe dele, a verdade é que ela não era feliz. Não que quisesse abandoná-lo, isso nunca, mas também não se sentia livre ao pé dele. Tudo à sua volta parecia espiá-la, pressioná-la. Ele tinha-a conquistado, tinha-a ao seu lado, fizera dela sua mulher. Quanto a ela, ela pertencia-lhe e sabia-o. Contudo, não era feliz. E também ele continuava a sentir-se frustrado. Apercebera-se de que, apesar de ter casado com ela e de, aparentemente, a ter possuído de todas as formas possíveis, apesar, inclusive, de ela querer que ele a possuísse, de ela o querer com todas as forças do seu ser, nada mais desejando para lá disso, a verdade é que não se sentia plenamente realizado, como se houvesse algures uma falha indetectada.

Sim, faltava, de facto, qualquer coisa. Pois ela, em vez da sua alma rejubilar com a nova vida que agora tinha, parecia antes definhar, exaurir-se, sangrar como se estivesse ferida. Assim, ficava longo tempo com a sua mão na dele, olhando o mar. Mas nos seus olhos negros e vadios havia como que uma espécie de ferida, o rosto ligeiramente mais magro, mais mirrado.





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