O Raposo - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 15 / 111

- E como tudo isto está diferente, hem? - continuou, relanceando o olhar pela sala.

- Acha que está diferente, é? - disse Banford.

- Se está!... Isso salta à vista...

Os seus olhos eram invulgarmente claros e brilhantes, ainda que tal brilho mais não fosse do que mero reflexo de uma saúde de ferro.

Na cozinha, March andava de ca para la, preparando outra refeição. Eram cerca de sete horas da tarde. Durante todo o tempo em que esteve ocupada, nunca deixou de prestar atenção ao jovem sentado na saleta, não tanto a ouvir aquilo que este dizia como a sentir o fluir suave e brando da sua voz. Comprimiu os lábios, apertando-os mais e mais, a boca tão cerrada como se estivesse cosida, numa tentativa para manter o domínio de si mesma. Contudo, sem que o pudesse evitar, os seus grandes olhos dilatavam-se, brilhantes, pois perdera já o seu autocontrole. Rápida e descuidadamente, preparou a refeição, cortando grandes fatias de pão e barrando-as com margarina, pois manteiga era coisa que não tinham. Deu voltas à cabeça a pensar no que mais poderia pôr no tabuleiro, já que só tinha pão, margarina e geleia na despensa quase vazia. Incapaz de descobrir fosse o que fosse, dirigiu-se para a sala com o tabuleiro.

Ela não queria chamar as atenções. E, acima de tudo, não queria que ele a olhasse. Mas quando entrou, atarefada a pôr a mesa por detrás dele, ele endireitou-se, espreguiçando-se, e voltou-se para olhar por cima do ombro. Ela empalideceu, sentiu-se quase desfalecer.

O jovem observou-a, debruçada sobre, a mesa, olhou-lhe as pernas finas e bem feitas, o casaco cinta do flutuando-lhe sobre as coxas, o bandó de cabelos negros, e mais uma vez a sua curiosidade viva e sempre alerta se deixou prender por ela.





Os capítulos deste livro