A lâmpada estava velada por um quebra-luz verde-escuro, de modo que a luz incidia de cima para baixo, deixando a parte superior da sala envolta na penumbra. O rosto dele movia-se, brilhante, à luz do candeeiro, enquanto March surgia como uma figura difusa, perdida na distância.
Ela virou-se, mas manteve a cabeça de lado, os olhos piscando, rápidos, sob as pestanas negras. Descerrando os lábios, disse então a Banford:
- Não queres servir o chá?
Depois, regressou à cozinha.
- Não quer tomar o chá onde está? - disse Banford para o jovem. - A menos que prefira vir para a mesa - acrescentou.
- Bom, sinto-me aqui muito bem, confortavelmente instalado. Se não se importa, prefiro tomá-lo aqui mesmo - respondeu ele.
- Só temos pão e geleia - disse então ela.
E pôs-lhe o prato à frente, pousando-o num escabelo. Sentia-se bastante feliz por ter alguém a quem servir, pois adorava companhia. E agora já não tinha medo dele, encarava-o quase como se fosse o seu irmão mais novo, tão criança ele lhe parecia.
- Nellie! - gritou. - Tens aqui a tua chávena.
March surgiu então à entrada da porta, aproximou-se, pegou na chávena e foi-se sentar a um canto, tão longe da luz quanto possível. Sendo muito susceptível quanto aos joelhos, e dado não ter qualquer saia com que os cobrisse, sofria pelo facto de ter de estar assim sentada com eles tão ousadamente em evidência. Assim, encostou-se toda para trás, encolhendo-se o mais que pôde, na tentativa de não ser vista. Mas o jovem, preguiçosamente estirado no sofá, fitava-a com uma tal insistência, os olhos firmes e penetrantes, que ela quase desejou poder desaparecer. No entanto, manteve a chávena direita enquanto bebia o chá, de lábios apertados e cabeça virada. O seu desejo de passar despercebida era tão forte que quase intrigou o rapaz, pois ele sentia que não conseguia vê-la com nitidez.