O Raposo - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 22 / 111

E sentiu que até poderia não a reconhecer se se cruzassem na estrada.

Naquela noite, March teve um sonho perturbador, particularmente vivo e agitado. Sonhou que ouvia cantar lá fora, um cântico que não conseguia entender, um 'cântico que errava à volta da casa, vagueando pelos campos, perdendo-se na escuridão. Sentiu-se tão emocionada que teve vontade de chorar. Decidiu-se então a sair e, de repente, soube que era ele, soube que era o raposo quem assim cantava. Confundia-se com o trigo, de tão amarelo e brilhante. Ela então aproximou-se dele, mas o raposo fugiu, deixando de cantar. Contudo, parecia-lhe tão perto que quis tocá-lo. Estendeu a mão, mas, de súbito, ele arremeteu, mordendo-lhe o pulso, e no mesmo instante em que ela recuou, o raposo, virando-se para fugir, já a preparar o salto, bateu-lhe com a cauda na cara, dando a sensação de que esta estava em fogo, tão grande foi a dor que sentiu, como se a boca tivesse ficado ferida, queimada. E acordou com aquela horrível sensação de dor, quedando-se, trémula, como se se tivesse realmente queimado.

Contudo, na manhã seguinte, já só se lembrava dele como de uma vaga recordação. Levantando-se, pôs-se logo a tratar da casa para ir depois cuidar das aves. Banford fora até à aldeia de bicicleta na esperança de conseguir comprar alguma comida, pois era naturalmente hospitaleira. Mas, infelizmente, naquele ano de 1918 não havia muita comida à venda. Ainda em mangas de camisa, o jovem, saindo do quarto, foi até ao rés-do-chão. Era novo e sadio, mas como andava com a cabeça atirada para a frente, fazendo com que os ombros parecessem levantados e algo recurvos, dava a sensação de sofrer de uma ligeira curvatura da espinha.





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