- Porque é que não dizes nada, Nellie? perguntou.
Mas March mantinha-se silenciosa, olhos arregalados e errantes, enquanto o jovem, como que fascinado, a observava de olhos fixos.
- Vamos, diz qualquer coisa - insistiu Banford. E March virou então ligeiramente a cabeça, como que a tomar enfim consciência das coisas ou, pelo menos, a tentar fazê-lo.
- Mas que esperas tu que eu diga? - perguntou em tom automático.
- Dá a tua opinião - disse Banford.
- Tanto se me dá, é-me indiferente - respondeu March.
E novo silêncio se instalou. Qual língua de fogo, uma luz pareceu brilhar nos olhos do rapaz, penetrante como uma agulha.
- Pois a mim também - disse então Banford. - Se quiser, pode ficar por cá.
Ato contínuo, quase que involuntariamente, um sorriso perpassou pelo rosto do rapaz, uma súbita chama de astúcia a iluminá-lo. Baixando rapidamente a cabeça, escondeu-a então nas mãos e assim ficou, cabeça baixa, rosto oculto.
- Como disse, se quiser pode cá ficar. Faça como entender, Henry - rematou Banford.
Mas ele continuava sem responder, insistindo em permanecer de cabeça baixa. Por fim, ao erguer o rosto, havia neste um estranho brilho, como se naquele momento todo ele exultasse, enquanto observava March com olhos estranhamente claros, transparentes. Esta desviou o rosto, um ricto de dor na boca crispada, quase como se ferida, a consciência toldada, presa de confusa turvação.
Banford começou a sentir-se um pouco intrigada.