- E é mesmo de lamentar, especialmente se pensa que se vai divertir muito por aqui volveu Banford.
Ele olhou-a demoradamente, um ar de seriedade estampado no rosto.
- Bom - disse, com aquela sua jovem e estranha gravidade -, por mim sinto-me aqui muito bem, até me divirto bastante.
- Pois folgo em ouvi-lo - retrucou Banford. E voltou ao seu livro. Apesar de ainda não ter trinta anos já se viam nos seus cabelos finos, algo frágeis e ralos, muitos fios grisalhos. O rapaz, não tendo baixado os olhos para o livro, fitava agora March, que permanecia sentada entregue ao seu laborioso croché, os olhos esbugalhados e ausentes, a boca crispada. Tinha uma pele quente, ligeiramente pálida e fina, um nariz delicado. A boca crispada dava-lhe um ar azedo. Mas esse aparente azedume era contrariado pelo curioso arquear das sobrancelhas negras, pela amplitude do seu olhar, um ar de maravilha e incerteza nos olhos espantados. Estava outra vez a tentar ouvir o raposo, que entretanto parecia ter-se afastado, errando agora nas lonjuras da noite.
O rapaz, sentado junto ao candeeiro, o rosto erguido assomando por sob o rebordo do quebra-luz, observava-a em silêncio, um ar atento nos olhos arredondados, muito vivos e claros. Banford, mordiscando os dedos, irritada, olhava-o de soslaio por entre os cabelos caídos. Quedando-se sentado numa imobilidade de estátua, o rosto avermelhado inclinado por sob a luz para emergir um pouco abaixo desta no limiar da penumbra, ele continuava a observar March com um ar de absorta concentração. Esta, erguendo subitamente os grandes olhos negros do croché, olhou-o por seu turno. E, ao encará-lo, soltou uma pequena exclamação de sobressalto.